Segunda-feira, 28 de Agosto de 2006
Água da chuva poderá sustentar agricultura no futuro
Falta de água atinge um terço da população mundial 20 anos antes do esperado. Estudo internacional aconselha medidas radicais para alterar uma situação que será impraticável em 2025. Medidas que passam pelo aproveitamento da água da chuva na agricultura.Há 5 anos atrás, o último relatório de previsão sobre a gestão de água a nível global não estimava que em 2006 a falta de água afectasse um terço da população mundial. Uma situação programada apenas para 2025. De acordo com o relatório Insights from the Comprehensive Assessment of Water Management in Agriculture agora apresentado na Semana Mundial da Água e desenvolvido pelo International Water Management Institute, a situação é alarmante e são necessárias medidas radicais. Neste sentido, os autores do estudo alertam que se nada for feito em 2050 o sector da agricultura vai precisar de duplicar a quantidade de água para produzir os alimentos que os humanos consomem. Sendo que através das acções apropriadas o crescimento total na utilização da água poder-se-á reduzir em 50% e a água nas bacias dos rios poderão estabilizar. «É necessária mais água para aliviar a pobreza, para produzir alimentos, para as cidades e indústrias, mas retirar mais água de outros ecossistemas ameaça os sistemas que suportam a nossa vida», refere David Molden, coordenador do relatório, citado em comunicado do International Water Management Institute. Os resultados do relatório, agora apresentado e desenvolvido por mais de 700 especialistas durante 5 anos, teve por base a avaliação das bacias de água natural em todo o mundo e indica exemplos, como a bacia de Yellow River na China que está saturada devido à exploração humana. Neste sentido, os especialistas defendem que para evitar uma catástrofe nos próximos anos a medida mais eficaz passa pelo aproveitamento e armazenamento da água da chuva para a rega de campos cultiváveis. Uma medida que, de acordo com os especialistas, será a forma mais rápida e barata para acabar com a pobreza de muito agricultores em regiões asiáticas e africanas, para pôr fim à má nutrição em certas zonas do globo e para impedir a invasão dos habitats naturais por parte dos agricultores que procuram campos para cultivo. Os especialistas defendem que as áreas agrícolas que podem ser ‘alimentadas’ pela água da chuva são a melhor oportunidade para fazer cobro à escassez de água nas zonas mais pobres do mundo como é o caso das savanas africanas. «As savanas africanas podem ser a casa para um grande número de pessoas mal nutridas nas zonas pobres rurais», refere Frank Rijsberman, Director Geral do International Water Management Institute (IWMI). «As pessoas estão actualmente a economizar uma vida em quintas muito marginais. Elas apresentam uma oportunidade crítica para aumentar a produtividade de água a uma grande escala. Investigação em agricultura levada a cabo por investigadores brasileiros mostra que isso é possível». No relatório, os especialistas indicam que a gestão da água a nível mundial tem de ser diferente daquela praticada nos últimos 50 anos e que tinha por base o princípio que a água nunca acabaria. Agora, são necessárias melhorias futuras na produtividade da água a nível dos proprietários agrícolas, os quais poderão utilizar novas técnicas como ‘agricultura de conservação’ e ‘nivelamento do solo’ para melhorar a irrigação e possível cultivo de culturas resistentes à seca. O reaproveitamento da água da chuva em vez do desperdício da mesma, como tem acontecido até agora, é para os especialistas a grande aposta para a sustentabilidade global. Os investigadores indicam que as medidas passam pela implementação de canos nos telhados, sacos de plástico tubulares que através de sarjetas transportem a água para armazenamento em grandes piscinas. Outra medida passa pela construção de diques ao longo de canais de drenagem para a rega dos campos em dias de seca. «Se não se tem água em duas semanas na região de Sahel em África, a colheita falha e presentemente isso acontece a cada 4 a 5 anos, portanto, as pessoas não arriscam métodos de ‘alimentação’ através da chuva», refere o coordenador do projecto e adianta que «a nossa ideia é ter água de parte para um dia sem chuva, como garantia contra a seca». Para que estas medidas sejam postas em prática, os especialistas sugerem que os responsáveis pan-africanos da New Partnership for Africa’s Development (NEPAD) - que desde há 5 anos vem desenvolvendo o ‘plano Marshall’ para modernizar tecnologicamente África com o apoio da União Africana - podem vir a assumir a sua implementação com arranque a nível continental e coordenação regional.
retirado de:www.tvciencia.pt